
Caetano e Gadu, o velho e o novo sobre o mesmo palco
04/11/2011 16:58Após o imenso sucesso que foi Shimbalaiê, o nome de Maria Gadú se espalhou de maneira assombrosa por todos os cantos do Brasil. Era a nova sensação da MPB. A melodia grudenta da canção não saia da cabeça das pessoas que, invariavelmente, escutariam essa música quase todos os dias. Paradoxalmente a isso, ocorreu um fenômeno estranho: era cafona gostar de Maria Gadú. Virou sinônimo de música para dona de casa que assiste novela, ou órfãos da Cássia Eller, mesmo sem muita similaridade entre as duas. Mas Caetano Veloso, que não dorme no ponto, depois de sua parceira em um CD/DVD com o rei Roberto Carlos, prontamente foi atrás de Maria Gadú para convidá-la para fazer algumas pequenas apresentações juntos. Esse Caetano…
A turnê ganhou grandes proporções rapidamente, como era de se esperar, resultando na gravação de CD e DVD e em apresentações por todo o Brasil. E Porto Alegre foi um dos pontos de encontro dos dois com o público, que lotou o Pepsi On Stage em todos os setores.
A apresentação começou com um atraso de uma hora, mas plenamente justificada pelo fato de Caetano ter vindo direto do enterro de sua irmã mais velha, na Bahia. O público se solidarizou a Caetano, que assim que entrou no palco com Maria Gadú para abrirem a noite com Beleza Pura, o músico teve certeza que poderia contar com o carinho da plateia. Sem esquentar muito o banco, após a primeira música, deixou o palco para Maria Gadú apresentar o seu material para os fãs, que sabiam todas as suas letras, e para os que ainda não tinham vencido a resistência de seus preconceitos e conheciam somente a maldita música da novela.
Gadú consegue segurar tranquila uma performance simples, de voz e violão. Domina muito bem as duas técnicas e suas músicas tem melodias muito certeiras. É o caso de Bela Flor, que funcionou muito bem ao vivo e Encontro, que já era mais conhecida do grande público e por isso já era de se esperar uma ótima reação à música. Sua melodia bonita e sua letra extremamente tenra contagiaram os presentes que entraram no clima fácil da canção. Ironicamente, o seu maior sucesso, Shimbalaiê, não fora tocado por ela, mas por Caetano, após sua volta para o palco. Aliás, Caetano conseguiu errar boa parte da letra, mas no fim foi mais legal do que ouvir a original pela milésima vez.
De novo juntos no palco, tocam uma das mais belas músicas da carreira de Caetano, Os quereres, que acabou ficando meio vazia, em tonalidade abaixo da gravação original, muito mais enérgica. A apresentação seguiu com vários clássicos que há muito não constavam no set list das turnês passadas, como Podres Poderes e De Noite na Cama.
Sozinho no placo, Caetano explicou o motivo de seu atraso e rompeu com o protocolo da apresentação, que era basicamente o mesmo repertório do disco em divulgação, e incluiu uma homenagem a sua irmã tocando duas músicas que tinham nela a inspiração: a maravilhosa Alguém Cantando e a homônima, Nicinha. Momento impar em uma já bela apresentação.
No bis, o pessoal que estava confortavelmente sentado, acabou por se levantar meio sem escolha, numa questão de enxergar o palco ou não, visto que muita gente foi saindo lá de trás pra chegar mais perto dos dois. E foi um momento muito bacana, menos formal. Tocaram Nosso Estranho Amor, A Gente vai Levando e fecharam com Menino do Rio. Uma apresentação com repertório bem escolhido, de uma dupla mesmo que circunstancial, mas muito bem entrosada e com várias afinidades, não tinha como não ser boa. Boa, não maravilhosa.
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