
Jornal O Globo apresenta Maria Gadú
25/05/2009 13:44
O Jornal O Globo fez uma entrevista com a Maria Gadú, que foi publicada ontem, dia 24/05.
Durante a entrevista para esta reportagem, Maria Gadú estava radiante. No dia seguinte, a cantora de 22 anos ouviria uma música sua pela primeira vez na rádio: "Shimbalaiê", composta por ela aos 10 anos. Os 12 anos que separaram esses dois acontecimentos foram cheios de shows em barzinhos, viagens, perrengues e covers de canções alheias. Agora, ela começa a contar outra história, com direito a elogios de João Donato, chamegos de Caetano Veloso e Milton Nascimento, aparição em minissérie e contrato com uma grande gravadora.
A guinada que transformou a paulistana tímida, de mãe hippie, em promessa da música até que foi rápida. Tudo começou quando um amigo a apresentou ao diretor Jayme Monjardim, então em pré-produção da minissérie "Maysa". Maria cantou para ele "Ne me quitte pas", um dos hits de seus shows de bar, numa versão suingada, a léguas da gravação dramática de Maysa. Impressionou tanto que ganhou um lugar na trilha sonora e numa cena, em que se apresentava, de smoking, numa boate. Pouco mais de quatro meses depois, tinha virado xodó de medalhões da MPB.
- Prevejo um caminho iluminado para ela. Gosto muito do estilo, da personalidade e da voz da Maria. Como eu, que comecei a compor aos 7 anos, ela faz música desde criança - derrama-se João Donato, que depois de ver a cantora a presenteou com uma letra sua para que ela musicasse.
O palco de seus primeiros - e definidores - encontros cariocas foi a Cinemathèque, em Botafogo, onde ela fez uma temporada de shows depois da minissérie, em abril. Pelo salão pequeno passaram não só Milton e Caetano - que fez questão de cumprimentá-la no camarim - como Kelly Key e Dado Dolabella, entre outros. Pela constelação de famosos na plateia, alguém poderia imaginar um aparato de marketing violento por trás da cantora. Que nada.
- Podem achar que ela é protegida de alguém, aparentada de alguém, mas não é. Tudo o que conseguiu foi tocando por aí - diz Marcelo Soares, diretor do selo Slap, da Som Livre, que lançará o primeiro disco de Maria no mês que vem.
Em cena, ela faz o gênero retraído. De chapéu enterrado na cabeça, jeans surrado, camisa branca e uma postura um pouco curvada, canta um repertório quase todo seu com um timbre levemente rouco e uma emissão potente. A seleção percorre samba, pop, rock, blues, com toques de regionalismo. Entre os momentos mais empolgantes, estão as versões de "A história de Lily Braun" (Edu Lobo e Chico Buarque) e "Baba baby" (sim, o hit de Kelly Key), só no violão.
- Minha vó era cantora lírica. Cresci ouvindo música clássica e Adoniran Barbosa. Também gosto de Lenine, Marisa Monte, Sandy e Júnior... - enumera.
Como tudo na trajetória de Maria, a virada à carioca aconteceu sem muito planejamento. Andarilha por natureza, ela decidiu vir ao Rio há um ano e meio procurar shows pequenos para fazer. Pediu abrigo em casas de amigos até arrumar um palco num restaurante natural na Barra, onde mal cabia uma banda. Até aí nenhuma novidade para alguém que fez sua carreira cantando Marisa Monte em casas como a cervejaria Braunmeister, em São Paulo.
- Desde os 13 anos, eu e minha mãe íamos a casas de música ao vivo e ela sempre pedia aos artistas para eu cantar alguma coisa no fim. Eu morria de vergonha. Também rolavam as festas dos amigos e parentes, né? - conta.
A música chegou à vida da cantora ainda na infância, na escola. Aos 7 anos, já gravava, em fita cassete, improvisos musicais com uma prima. Logo surgia "Shimbalaiê", canção de melodia contagiosa que virou uma espécie de amuleto de Maria. É a preferida de Donato e foi a escolha da gravadora para apresentar o trabalho da artista na rádio MPB FM. Também foi a que a levou a compor outra vez.
- Eu odiei essa música por muito tempo, talvez por ter sido a primeira. Achava infantil. De uns tempos para cá, fizemos as pazes - diz Maria, que quebrou a resistência e retomou as composições no ano retrasado.
A compositora, cantora e violonista Maria Gadú mal lê partitura e não fez mais do que alguns meses de aulas de violão na vida. Achou as lições muito padronizadas. Também não aprendeu outras línguas, embora interprete "Ne me quitte pas" com os versos originais de Jacques Brel, num francês decorado foneticamente. A timidez, ela quebra com um jeito atencioso que cativa da própria banda a gente como Milton Nascimento.
- Fui convidado por uma turma jovem para assistir ao show de uma garota nova. Quando chegamos ao teatro, lotado, fiquei muito feliz ao ver aquela voz linda e suave, que me conquistou logo - conta Milton. - Fui falar com ela após o show e confirmou-se o que havia acontecido no palco. Uma enorme simpatia que se estende. E já nos encontramos na minha casa, várias vezes.
—————