
Show em Lisboa
04/11/2011 17:07Mayra Corrêa Aygadoux. 24 anos. Paulista.
O que é que estas duas pessoas têm em comum? Para já uma notória amizade que as une. Depois, o facto de terem conquistado por um lado, o silêncio, por outro os aplausos nesta noite no Pavilhão Atlântico, em Lisboa. Tantos aplausos que os artistas não puderam fugir a dois encores muito pedidos. Os cantores brasileiros interpretaram temas da autoria de ambos, embora, surpreendentemente, se tenham dividido ao longo do espectáculo que durou cerca de duas horas: o primeiro tema, 'Beleza Pura', foi cantado a duas vozes mas logo depois foi Maria Gadú que embalou a plateia em dez músicas. De seguida, outras dez só com o imenso Caetano e, por fim, mais uma dezena onde pudemos comprovar a beleza da combinação perfeita destas duas vozes. E é bom saber que ainda há quem o consiga fazer de forma tão impressionante e sem recursos informáticos.







Beleza Pura’ marcou o início de um concerto de quase duas horas, para uma sala esgotadíssima que ouviu com atenção e cantou as músicas dos dois artistas. A solo ou em dueto, com uma cumplicidade ímpar, Caetano e Gadú deliciaram a plateia, composta por fãs de todas as idades.
Nem um nem outro são estreantes em Portugal. Ele é um nome indiscutível da música brasileira. Ela é uma “menina de 24 anos”- como Caetano carinhosamente a trata- com uma voz sóbria, atraente, que rapidamente leva o público ao silêncio. Gadú não dá vontade de acompanhar a cantar. Gadú dá vontade de ouvir com atenção, de olhos bem fechados. É, em bom português do Brasil, ‘tudo de bom’.
Depois da primeira música, o filho de Dona Canô abandonou o palco. Com um “boa noite, gente”, a artista entregou-se então de corpo e alma aos portugueses. Seguiram-se as já conhecidas ‘Bela Flor’, ‘Encontro’ e ‘Tudo Diferente’. Mas nem só de originais se fez o espectáculo. Antes do regresso do seu companheiro de aventura, Maria Gadú interpretou ‘Amor de Índio’, uma música de 1978 de Beto Guedes, mas trazida até à actualidade pelo grupo brasileiro Roupa Nova.
As duas vozes voltaram a juntar-se com ‘O Quereres’ e ‘Sampa’. Depois, foi Caetano que cantou a solo. Os grandes clássicos não podiam faltar e, em cada um deles, a plateia dava um pouco de si. ‘Cajuina’, ‘Desde que o Samba é Samba’ ou ‘Alegria, Alegria’ foram alguns dos temas tocados. O auge não é difícil adivinhar: o cantor, de 69 anos, deixou de lado a solidão e interpretou, bem acompanhado, a tão conhecida e intemporal ‘Sozinho’.
Caetano teve ainda tempo de mostrar que a sua fama de mal-humorado não passa disso mesmo. “É bom cantar músicas de outros [cantores]. Assim sentimos que não estamos a trabalhar!”
E quando todos esperavam que Maria Gadú cantasse ‘Shimbalaiê’, a dupla trocou as voltas ao público e foi Caetano que deu voz ao maior sucesso da artista, que ficou embevecida com a interpretação.
Para o final ficaram os grandes êxitos, a duas vozes, como ‘Trem das 11’, ‘Leãozinho’, ‘O Nosso Estranho Amor’ ou ‘Menino do Rio’. A dupla, que sábado canta no Porto, voltou ao palco duas vezes, após os pedidos de um público persistente.
Um senhor da música brasileira e uma promessa que já conquistou o seu espaço e reconhecimento, num concerto que teria tudo para ser expectável, mas que se tornou numa agradável e deliciosa surpresa.
No palco do Pavilhão Atlântico não houve romance mas um estranho amor.
O atraso no inicio do concerto não pareceu incomodar o publico que lentamente ia enchendo a sala. Expectante mas não impaciente, a noite prometia música doce e aconchegante.
Caetano Veloso e Maria Gadú chegam ao palco simples e despojados. Brindam a plateia com «Beleza Pura» e Caetano abraça Maria deixando-a entregue a um Pavilhão Atlântico com um péssimo som.
Escondida atrás de um chapéu e de um sorriso tímido passeia pelo repertório com a sua voz forte e melódica, faz-nos rir com a introdução de uns versos de «1406” dos Mamonas Assassinas - «Money que é good e nois não have» é o verso repetido na plateia com ou sem reconhecimento. Uma dezena de músicas depois não restam dúvidas, caso as houvesse, de que Maria Gadú é o próximo nome a decorar no futuro da MPB.
Quando chega a altura de Caetano ficar a sós, somos transportados para o seu universo particular. Pouco comunicativo, admite que tem prazer em cantar as músicas que não lhe pertencem depois de, em jeito de rebuçado, cantar «Sozinho» acompanhado por milhares de vozes. Intercalando entre silêncios e palmas fortes nota-se o prazer nos olhos do cantor que não se envergonha de olhar para as pautas quando a memoria não quer ajudar.
Quem esperava uma reprodução do álbum ao vivo «Multishow» talvez não tenha saído de peito cheio, ainda que o concerto tenha terminado com a dupla em palco a emocionar a plateia na partilha e na entrega. Esta respondeu sem medo a «Menino do Rio», «Leãozinho» e derreteu-se numa versão menos sambada e mais intensa de «Trem Das Onze».
Tanto assim foi que voltaram para dois encores, e foi aqui que o público se levantou e se chegou à frente para tentar a aproximação que esta sala de espectáculos à beira rio não consegue criar. Ficou a faltar a «História De Lilly Braun» e acima de tudo a envolvência que este tipo de espectáculos merece.
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